sexta-feira, 19 de agosto de 2011

O ENSINO DE MATEMÁTICA NO BRASIL

Editorial do Estadão comenta o ensino de matemática no Brasil e afirma que as deficiências nesta área logo nas séries iniciais comprometem todo o aprendizado do aluno no ensino básico

A matemática continua sendo a disciplina do currículo básico com os índices de aproveitamento mais baixos nas avaliações institucionais. No Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp) de 2010, por exemplo, 44% dos alunos da 3.ª série do ensino médio tiveram desempenho insuficiente na matéria.

O Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), que avalia o desempenho em leitura, matemática e ciências de jovens de 15 anos, coloca o Brasil nas últimas posições, num ranking de 65 países. Quatro em cada 10 jovens brasileiros nessa faixa etária não sabem multiplicar.

Divulgado esta semana, o levantamento mais recente da situação do ensino de matemática no País foi elaborado pelo Insper (antigo Ibmec) com base nas notas do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica de 2005, 2007 e 2009, e do Exame Nacional do Ensino Médio de 2008.

Entre outras conclusões, a pesquisa aponta um paradoxo: os Estados com as notas mais baixas em matemática nas avaliações do MEC são os que apresentam maior número de estudantes interessados em seguir a carreira docente no campo das ciências exatas. E o que os leva a fazer essa opção é a baixa concorrência nas licenciaturas dessa área, pois as notas exigidas para ingresso são inferiores às das áreas mais disputadas.

Para as pesquisadoras Maria Cristina Gramani e Cintia Scrich, responsáveis pelo levantamento do Insper, isso vem gerando um círculo vicioso que vai piorar a má qualidade do ensino de matemática no País. Isso porque esses estudantes vão se tornar docentes na área em que apresentaram as maiores dificuldades de aprendizagem.

Como no ensino básico não tiveram um bom conhecimento dos rudimentos da matemática, eles não conseguiram aprender - e, portanto, não conseguirão ensinar - as questões mais complexas.

"Piauí e Sergipe são grandes exemplos dessa relação preocupante: registram altos números de inscritos e ingressantes nos vestibulares para formação de professores em ciências exatas e, ao mesmo tempo, têm desempenhos baixos em matemática", diz Cristina Gramani.

Na Universidade Federal de Sergipe, por exemplo, só 20% dos alunos do 1.º ano do curso de matemática passam para o 2.º ano aprovados em todas as disciplinas.

O problema é antigo e preocupante, pois a má qualidade do ensino de matemática é um dos fatores que vêm limitando a formação de engenheiros em número suficiente para atender às necessidades da economia nacional.

Em 2008, os cursos de engenharia ofereceram 239 mil vagas, mas só foram preenchidas 140 mil. Ou seja, não faltam vagas nas universidades - faltam, sim, vestibulandos com conhecimento mínimo de matemática. O País forma cerca de 47 mil engenheiros por ano, ante 650 mil, na China, e 220 mil, na Índia.

A estimativa é de que o Brasil tenha hoje apenas 59 mil professores formados em matemática - um número muito aquém da necessidade da rede de ensino básico. Além disso, no ensino fundamental o docente das séries iniciais tem formação em pedagogia, carecendo de formação específica em matemática.

E, segundo os pedagogos, isso não é suficiente para que saiba ensinar uma disciplina bastante técnica. As séries iniciais do ensino básico são fundamentais para que os alunos aprendam a ler números, a compreender as quatro operações aritméticas e a aplicá-las no cotidiano. As deficiências nas séries iniciais comprometem assim todo o aprendizado do aluno no ensino básico.

Durante décadas, imaginou-se que o baixo rendimento dos estudantes nesta disciplina decorria do método com que ela era ensinada. Valorizando a memorização de tabuada e a repetição de fórmulas, esse método não mostra aos estudantes como a matemática ajuda a raciocinar de forma lógica e objetiva.

A pesquisa do Insper mostrou que o problema do baixo rendimento dos alunos em matemática não decorre só da falta de métodos de ensino mais modernos, mas também do baixo número de docentes capazes de dominar a disciplina.


sábado, 11 de junho de 2011

MELHORIA DA EDUCAÇÃO NO CERÁ GERA RECURSOS AOS MUNICÍPIOS

No Ceará, índices em Educação, saúde e meio ambiente ditam como é distribuído o imposto

A Lei (14.023, de 17.12.2007) que mudou os critérios de distribuição do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) entre os municípios cearenses já mostra resultados.

Aplicada desde 2008, a nova distribuição do imposto beneficiando mais os que priorizam a qualidade da Educação, da saúde e do meio ambiente, nos seus aspectos mais básicos, apresentam resultados e fez com que os pequenos aumentassem o seu coeficiente de participação e ganhassem mais recursos.

De 2008 a 2010, o coeficiente de distribuição do município cearense de Abaiara, por exemplo, cresceu 145,75%. “É uma lei interessante com bons resultados”, comenta oprofessor Marcos Holanda, autor do estudo que avaliou os três anos da aplicação da lei (2008-2009-2010).

O trabalho realizado no Departamento de Economia Aplicada da Universidade Federal do Ceará (UFC), que lança em junho o Centro de Gestão para Resultados no Ceará, mostra como um dos efeitos da lei a distribuição mais uniforme.

Num outro efeito que chamou de Robin Hood identificou que muitos do que ganhavam menos passaram a ganhar mais. “Alguns municípios estão percebendo que com um nível de desempenho mais elevado em saúde e Educação podem ganhar mais dinheiro”, considera, ressaltando que o Estado deveria divulgar mais a lei.

Adianta que o ponto ruim é que alguns municípios, por não perceberem que os critérios de distribuição mudaram ou a gestão está equivocada, estão perdendo dinheiro e ficando para trás. Destaca que tem cidades pobres que estão avançando e outras não. “Isso indica que o bom desempenho em Educação não necessariamente está relacionado com a riqueza econômica ou tamanho da população e sim com a aplicação de boas políticas em Educação, saúde e boa gestão”, analisa.

EducaçãoA Lei de ICMS do Ceará, pioneira no Brasil no incentivo de resultados, apresenta um critério de divisão que beneficia e dá mais dinheiro, para os que apresentam os melhores desempenhos em Educação, saúde e meio ambiente.

Dos 25% do ICMS que o Estado, constitucionalmente, tem que repassar aos municípios, 18% são rateados em função do desempenho da Educação. As notas dos alunos em exames nas disciplinas de Matemática e Português a partir do Índice Municipal de Qualidade Educacional (IQE) de cada Município.

Esse índice é formado pela taxa de aprovação dos alunos do 1 ° ao 5° ano do ensino fundamental e pela média obtida pelos alunos de 2° (alfabetização) e 5° ano da rede municipal em avaliações de aprendizagem.

Outros 5% serão divididos de acordo com o Índice Municipal de Qualidade da Saúde, taxa de mortalidade infantil. E 2% serão distribuídos a partir do desempenho no Índice Municipal de Qualidade do Meio Ambiente de cada município, basicamente o sistema de coleta de resíduo.

De acordo com a lei de distribuição do ICMS, os índices municipais de Qualidade Educacional, de Qualidade da Saúde e de Qualidade do Meio Ambiente de cada Município são calculados, anualmente, desde 2008, pelo Ipece.

Fonte: jornal O Povo (CE)

ATUAÇÃO DO COORDENADOR PEDAGÓGICO

Em vez de cuidar do preparo dos docentes, 72% deles fiscalizam entrada e saída de alunos, diz pesquisa da Fundação Victor Civita

Uma pesquisa realizada pela Fundação Victor Civita, e divulgada pelo jornal Estado de São Paulo, revelou que o coordenador pedagógico o coordenador pedagógico é responsável por uma série de atividades que não lhe dizem respeito e acaba omisso em sua principal função: a formação contínua dos docentes. Do atendimento ao pai de um aluno indisciplinado à avaliação da limpeza das classes são funções exercidas por ele. A pesquisa ouviu 400 coordenadores de 13 capitais brasileiras e mostrou que, enquanto 72% deles acabam responsáveis por fiscalizar a entrada e a saída de alunos - trabalho de bedel, como são chamados os inspetores no ambiente escolar -, só 19% dão atendimento individual aos professores. "Ele começa a funcionar como braço direito do diretor. Recebe um cabedal de atividades e não sabe dizer não", explica Angela Dannemann, diretora executiva da Fundação Victor Civita.

Na lista de atividades fora do escopo do coordenador, mas executadas por ele, constam: visitar empresas para fechar parcerias, cuidar de questões financeiras e burocráticas e até substituir os professores que faltam: 19% dos entrevistados relataram que dão aula uma ou algumas vezes por semana e 55% conferem se as salas de aula estão organizadas e limpas. Uma das razões para esse desvio de função advém da carência de uma formação específica para a função. A maioria dos coordenadores pedagógicos não tem formação em gestão: saíram da sala de aula como professores e assumiram o cargo sem conhecer e dominar competências e estratégias próprias.
Dos 72% de coordenadores que trabalham na fiscalização da entrada e saída dos alunos, por exemplo, 91% deles acreditam que é uma atividade apropriada à função. Em contrapartida, 47% deles não souberam dizer o resultado de sua escola no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB).
"A verdade é que nem a escola sabe para que ele existe. Nem ele sabe sua atribuição. Com isso, faz uma série de ações e deixa de lado a parte pedagógica, que é a formação continuada do professor", diz Ana Maria Falcão de Aragão, da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Para que o cenário mude, é preciso investir na formação adequada desse coordenador pedagógico. Hoje, a existência da função depende de políticas estaduais e municipais e, segundo Angela, não existe um curso de formação específica para a atividade. "Muitos saem da sala de aula para a coordenação sem estarem preparados para o novo cargo. Como não há um plano de carreira docente, tornar-se gestor é a única forma que muitos professores enxergam como promoção. Não deveria funcionar assim. As atribuições são distintas e é preciso estar preparado."
Para ser coordenador pedagógico, é preciso dominar conceitos que ultrapassam o aprendido na academia. "A formação tradicional em Pedagogia e os cursos que costumam ser propostos pelas secretarias de Educação, como os que ensinam a trabalhar com aluno especial ou a alfabetizar melhor, são pouco para o que a função exige", afirma Vera Trevisan de Souza, da PUC-Campinas.
"O que o coordenador precisa aprender, de fato, é a traduzir políticas públicas voltadas à escola, conduzir o projeto político pedagógico, fazer mediação do currículo", completa a professora.
Solução
Um dos passos para a valorização do coordenador pedagógico é primário: o reconhecimento de sua existência. No Plano Nacional de Educação, em trâmite no Congresso, não há referência à função. "A meta 19 fala da gestão escolar, mas se esquece do coordenador. A aprendizagem é o grande desafio da Educação e quem trabalha a qualidade do docente é justamente o coordenador", diz Mozart Ramos, do movimento Todos Pela Educação.
A profissionalização, segundo a professora Ana Maria, da Unicamp, é outro passo importante. A pesquisa mostrou que apenas 33% dos coordenadores foram selecionados por concurso público. O restante entrou por indicação ou seleção técnica, entre outros critérios. "É muito comum o coordenador ser indicado pelos seus pares para ficar por um tempo determinado. Daí fica complicado, porque se ele propõe grandes alterações, seu pescoço está a prêmio. É uma relação muito doméstica. Se todos fossem concursados, seria muito melhor".

terça-feira, 31 de maio de 2011

O QUE NOS TORNA HUMANOS

O que nos torna humanos
''O que nos separa dos países desenvolvidos são as necessidades na Educação e na cultura'', diz Nizan Guanaes

* Nizan Guanaes

Na última sexta-feira, em Paris, tive a grande honra de ser nomeado Embaixador da Boa Vontade da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).

Mas, se, na sexta-feira, a nomeação foi uma honra, hoje já é uma enorme responsabilidade. A Unesco é tão relevante, faz coisas fantásticas para o mundo. Estou na Unesco para ajudá-la a se comunicar, a alcançar e a mobilizar pessoas em torno de suas insuperáveis causas: a Educação, a ciência e a cultura.

É isso o que nos torna humanos. Quando Oskar Metsavaht, Vik Muniz e eu recebemos a missão de Irina Bukova, diretora-geral da Unesco, relatei a história do meu primeiro trabalho com a organização.

Era o ano de 1987, eu era um redator de 29 anos, em começo de carreira, e recebi a tarefa de levantar dinheiro para reformar o dilapidado Centro Histórico de Salvador, minha cidade natal. Ele tinha sido apontado como Patrimônio da Humanidade pela Unesco. Disse a meu chefe que queria pedir apoio a Akio Morita, fundador da Sony, o equivalente hoje a pedir ajuda a Steve Jobs.

As pessoas da agência disseram: "Esse cará tá louco!" Mas procurei a Sony Brasil e, em uma semana, recebi a resposta de Morita. E muito mais: ele tinha gravado o texto que enviei em cima das imagens da campanha, várias vezes, uma atitude tão singela e digna que fortaleceu nossa mensagem.

Muitos anos se passaram, mas nunca esquecerei suas palavras: "Meu nome é Akio Morita, sou o presidente da Sony Corporation e fui convidado a apoiar o Centro Histórico de Salvador, um lugar em que nunca estive. Mas, se as Nações Unidas dizem que ele pertence à humanidade, isso significa que ele pertence a mim também". As palavras, as ideias que elas representam, têm um poder mágico. A comunicação é o seu meio de transmissão. E comunicar é educar.

Vivemos em plena era da comunicação. A Educação, como todos os outros setores, será transformada por essa nossa nova capacidade de comunicação total, instantânea e profunda ao mesmo tempo.

Dois filantropos e empreendedores revolucionários -Bill Gates, da Microsoft, e Mark Zuckerberg, do Facebook- focam esforços na Educação por um motivo: ela é ao mesmo tempo a base e o topo. Podemos aprender muito com os dois nessa área.

A Bill & Melinda Gates Foundation gasta centenas de milhões de dólares para promover grupos de pressão ligados à Educação. Não basta só investir na infraestrutura física e no corpo docente das escolas, mas na organização e na projeção dos grupos interessados no progresso dessas escolas: alunos, pais de alunos, professores, educadores. Gente que lutará e garantirá que a escola funcione bem.

Todos na escola ganharão quando alunos, pais, professores e autoridades se comunicarem mais e melhor entre si e entre todos. As redes sociais estão aí para isso. Zuckerberg, do Facebook, bilionário aos 25 anos, destinou US$ 100 milhões para a melhoria do ensino público em Newark (Nova Jersey).

Ele diz que sua melhor experiência em Harvard (que não concluiu) foi o contato com os outros alunos, aprender e criar coisas com os demais colegas.

Zuckerberg vê a Educação (assim como a mídia toda, shopping, saúde, finanças...) tornando-se uma função muito mais social nos próximos anos.

Ele antevê tecnologia e softwares que permitirão um aprendizado muito mais coletivo do que hoje, aluno aprendendo com aluno, aluno vendo on-line outro aluno estudar.

Aquele dia primaveril de Paris me encheu de orgulho e de responsabilidade.

Ao chegar ontem ao Brasil, ao outono paulistano, ela ficou maior ainda. As necessidades na Educação e na cultura são tantas por aqui comparadas aos países mais desenvolvidos. É basicamente isso que nos separa deles. Nosso país ao menos já encontrou o caminho. Agora, para percorrê-lo, precisamos de boa Educação. Para todos.

* NIZAN GUANAES, publicitário e presidente do Grupo ABC, escreve às terças-feiras, a cada 14 dias, nesta coluna

Fonte: Folha de São Paulo (SP)

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Vídeo da professora Amanda Gurgel

Vejam o vídeo mais comentado da semana, de uma nordestina porreta a professora do Rio Grande do Norte Amanda Gurgel. Nesse vídeo ela consegue silenciar os deputados do RN em audiência pública, fazendo uma crítica ao cenário da educação no seu estado e no Brasil.

Depoimento da professora Amanda Gurgel

quinta-feira, 19 de maio de 2011

ESPECIALISTAS PEDEM MUDANÇAS NA AVALIAÇÃO DO ENSINO BÁSICO

O modelo de avaliação criado em 2007 pelo Ministério da Educação para medir o desempenho dos estudantes da educação básica foi criticado nesta quarta-feira durante audiência pública da comissão especial criada para analisar a proposta do governo que cria o Plano Nacional de Educação (PNE - PL 8035/10), com metas para o setor nos próximos dez anos.
A avaliação é feita por meio do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que é calculado a partir dos dados sobre aprovação escolar (obtidos no Censo Escolar) e médias de desempenho nas avaliações do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), que são o Saeb e a Prova Brasil. A melhoria dos resultados do Ideb é um dos objetivos do plano em discussão na Câmara.
Apesar de elogiar a avaliação, o pesquisador da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) José Francisco Soares disse que o indicador tem limitações. A principal delas, segundo ele, é o fato de que o índice não leva em consideração os alunos que deixaram de fazer o exame.
A exclusão de alguns alunos na avaliação, para Soares, gera distorções nos resultados apurados. “Há a possibilidade de que a escola aumente seu Ideb sem que de fato todos os alunos tenham caminhado, mas apenas parte deles”, disse.
O especialista também ponderou que o indicador é mais sensível a melhorias em matemática que em leitura e que o Ideb não pode ser avaliado como uma nota comum, já que seu resultado depende da análise das notas tiradas por todos os alunos – por exemplo, para que uma escola tire a nota máxima dez, todos os estudantes devem apresentar esse mesmo resultado. “Uma escola que tirou nota seis, portanto, teve um ótimo resultado”, exemplificou.
José Francisco Soares, no entanto, ressaltou a importância do indicador: “É preciso melhorar, mas devemos também reconhecer que o Ideb representa um enorme avanço na maneira de tratar a educação no Brasil, já que evidencia que a educação tem sim resultado apurável, que é a aprendizagem dos alunos”.

Reportagem – Carolina Pompeu
Edição – Wilson Silveira

Fonte: Agência Câmara